Da escola para a casa

Escola da Vila

Se você fosse um cronista, o que escreveria sobre o isolamento social? 

Os alunos e alunas dos 1ºs anos do Ensino Médio têm como um dos estudos de língua portuguesa a crônica. Esse gênero está muito ligado ao jornal, versa sobre os temas mais diversos, desde fatos corriqueiros até grandes acontecimentos. O cronista é aquele que olha para as coisas de modo enviesado e cortante, por isso, apesar de mergulhado no presente, se distancia dos fatos para narrá-los e os olha com outros olhos. 

Por Alana Rubia de Araújo Leite Vaz, aluna do 1º ano do Ensino Médio

Da escola para a casa

A mudança drástica da rotina escolar se tornou algo assustador, tanto pelas adaptações de aulas quanto pela falta de comunicação direta entre professor e aluno.

Em pensar como aquele lugar, a escola, faz tanta falta na trajetória do aprendizado. A falta das carteiras, das escadas, dos gestos do professor na hora da explicação, dos colegas e brincadeiras durante a aula; da estrutura escolar em geral, tornou-se algo que nos traz saudade. Uma saudade estranha, pois estivemos naquele lugar por horas e horas fazendo coisas cotidianas e repetitivas, mas, mesmo assim, esse sentimento é forte, pelo desejo de querer voltar à vida normal.

Estudar à distância, realmente não chega perto da experiência escolar física. Naquele espaço eram energias completamente diferentes dessas em casa. Porque tudo se tornou monótono. Quem poderia imaginar que estudar todos os dias em casa, sem poder sair por um segundo sequer nas ruas, se transformaria em algo mil vezes mais cansativo do que sair todos os dias para ir até a escola?

De frente para o computador ou celular, únicas ferramentas que posso usar para me comunicar com os professores, colegas, ou melhor, com a escola, me veio a ideia de espairecer um pouco dessa rotina visualmente cansativa e olhar com um ponto de vista diferente aos arredores, para minha casa.

Os móveis e a casa

Depois de tanto tempo sem sair de casa, comecei a reparar nos móveis e estrutura de minha residência, algo que parecia tão normal e corriqueiro se tornou diferente. Diferente de uma maneira um tanto quanto estranha, por vê-los todos os dias e, ao mesmo tempo, não enxergá-los.

Olho para o meu guarda-roupa. Eu o abria e fechava todos os dias, mas nem sequer reparei nas manchas que apareceram na madeira ou na poeira que acumulou naquele perfume que parei de usar.

Minha casa se parece cada vez menor do que o comum. É sufocante ficar olhando por horas para as mesmas paredes e azulejos, tudo está se tornando sem cor e sem graça. Não deveria ser tão enjoativo ficar em um lugar onde moro há anos e do qual tenho lembranças boas e até mesmo ruins; lembranças de minha vida, afinal.

Talvez esse tempo “presa” tenha me dado uma certa mania de limpeza, por querer tirar cada pó dos mínimos detalhes das fissuras da minha casa ou organizar os livros nas prateleiras e dobrar novamente as roupas do armário. Essas obrigações básicas se tornaram passatempos para que o tédio não seja tão grande.

Os pensamentos na quarentena

Esse tempo em casa me faz refletir em diversas coisas, contudo, principalmente, me faz pensar em coisas ruins e melancólicas. Por que será que, quando ficamos tempo demais sozinhos mentalmente ou até fisicamente, começamos a pensar em diversas coisas surreais e tristes?

No caso da escola com o ensino à distância, por exemplo, existe um constante pensamento de insuficiência e uma sobrecarga das matérias. Por mais que não sejam muitas as atividades, a produtividade já não é a mesma do que na escola. Em casa, querendo ou não, as distrações são muito mais recorrentes, tornando difícil a concentração.

A todo momento pensamos em sair só por cinco minutos e depois voltar para dentro, porém, não o fazemos pelo medo do vírus e por querer proteger quem quer que esteja dentro de nossas casas.

Essa crise nos tornou diferentes e mais fortes do que antes, por esse acontecimento não ser algo comum em nossas vidas. No futuro poderemos parar, pensar nesse ano de 2020 e relembrar como foi viver em meio a uma pandemia, e como nós ajudamos o mundo ficando apenas em casa, sendo “heróis” e suportando certos conflitos internos para poder, enfim, ter dias normais.