As crianças e as coisas pequenas da vida.

Por Dayse Gonçalves

Agora é a vez do tempo que dedicamos às crianças. Não é incomum que as crianças queiram compartilhar o que fizeram no final de semana na companhia de seus familiares. Muitas vezes, como no nosso caso, é a escola que estimula este tipo de troca. E as razões para este tipo de intercâmbio são muitas: conhecê-los melhor, se conhecerem melhor, com a vantagem de que ainda produzem relatos fascinantes à medida que vão ganhando maior desenvoltura como falantes. É muito gostoso ouvi-los conversar na roda. Se um diz “Eu fui ao Parque Villa Lobos ontem” o outro pergunta: “E você andou de bicicleta com seu pai?” No mais das vezes, a professora só cuida da “distribuição democrática” da palavra, como costumamos dizer. E quase sempre ainda temos de propor que continuemos conversando na hora do lanche, já que quase todo mundo quer falar, quer contar o que fez, com quem fez.

Tive notícias de uma roda muito inspiradora numa turma de G3 (crianças 5 anos) nesta semana. Uma criança chegou contando que plantou bambu com seu pai. Começou meio timidamente, talvez por julgar que este tipo de programa não tivesse, para os colegas e as professoras, o mesmo valor que um passeio, uma ida ao teatro. Mas nem preciso dizer o quanto os colegas acharam ‘o máximo’ este tipo de experiência. Tinham muitas perguntas a fazer e ela, muita coisa para contar. Contou das plantas que têm em casa, das que não vingaram, das que foram substituídas, das que vicejaram ... de modo que este tipo de atividade foi ganhando cada vez mais sentido e significado.

Então aproveito este post para convidar a uma reflexão sobre a qualidade do tempo que dedicamos aos filhos, à convivência familiar. A vida moderna impõe alguns valores, algumas demandas das quais precisamos sempre desconfiar. Passar um final de semana em casa parece castigo para algumas pessoas. Divertir-se é sinônimo de fazer muitas coisas fora de casa (ir ao cinema, ao teatro, a festas, ao shopping, ao restaurante, a um churrasco...). Isto também. Mas é preciso mostrar às crianças que o tempo desfrutado realizando outro tipo de atividade também é importante. São coisas pequenas, como está dito no título, que para os pequenos são grandes acontecimentos, como ir à feira, cuidar do jardim, cozinhar sem pressa, combinar o que vão assistir no “cineclubinho” (com ou sem convidados), organizar as fotografias, telefonar para os avós, ficar cada um no seu canto, um pouquinho sozinho, fazendo aquilo que mais gosta ou que precisa fazer (lendo, desenhando, cochilando ...).

Também é importante tentar conciliar as necessidades adultas com as necessidades infantis. Outro dia conversava com um casal sobre o comportamento do filho em restaurantes. Especulávamos sobre quão exigente é este tipo de atividade, já que solicita da criança um tempo de permanência à mesa que muitas vezes não conseguimos em casa. Obviamente sou entusiasta deste tipo de experiência. Script de frequentador de restaurante se aprende frequentando restaurantes. Mas creio também que não podemos perder de vista a necessidade de conciliarmos nossas necessidades com as necessidades e possibilidades de nossos filhos. Às vezes é preciso abrir mão do nosso desejo adulto para poupar os pequenos (e também para nos pouparmos de alguma contrariedade). E, ainda, vai ter experiência que a gente vai ter de adiar por um tempo, até que nossos filhos possam nos acompanhar. Mas, por ora, a melhor coisa a fazer é mesmo aproveitar os pequenos. Afinal, a infância está acontecendo agora. E olha que ela passa depressa, viu?