Emoção e profissionalização. Dá para misturar e separar as coisas?

Por Miruna Genoino - Professora do 3º ano do Ensino Fundamental e Formadora de Professores.

No ano 2000 eu estava no 2º ano da faculdade de Pedagogia da USP e começava de forma oficial a trabalhar na Escola da Vila, como professora auxiliar de uma classe de 1º ano, naquele tempo chamada de Grupo 4. Assim, fui convidada a integrar o Grupo de Formação em Alfabetização, um curso anual que me ajudaria a entender e refletir sobre tudo o que eu veria na classe que eu apoiaria. Aquele foi um ano intenso, cheio de vivências das mais variadas, mas lembro-me com emoção de algumas aulas que me deixavam realmente instigada e disposta a querer mais e mais daquele espaço de formação, daquela minha vida na educação que apenas iniciava...

Lembro-me de quando a formadora Andréa Luize me mostrou algumas produções de crianças e pôde refletir com os participantes mais experientes (digo isso porque eu só ouvi, não conseguia fazer nada mais) da forma que só ela sabe fazer, delicada e pausadamente, sobre tudo o que aqueles alunos e alunas já sabiam sobre a escrita e que estavam ali, para todos verem, mas que parecia ainda um grande mistério para mim. Também me recordo com carinho dos momentos de leitura literária, em especial o dia em que Dayse, também formadora do curso, leu um trecho da história de Manuelzão e Miguilim e não conseguiu terminar, de emoção, cheia de lágrimas nos olhos.

De lá para cá, se passaram 11 anos, desde que eu era uma aluna do curso, até esse ano de 2011, em que tive a grande honra de receber esse presente carregado de responsabilidade, de conduzir as atividades do GF de Alfabetização. Tenho vivido uma experiência maravilhosa, de compartilhar minha preparação e meus estudos com Andréa Luize, hoje minha coordenadora do curso, e de encaminhar as muitas reflexões e discussões que temos feito com o grupo até agora. Aos poucos, estou conhecendo as 42 alunas que compõem esse grupo, mas percebo a cada Power Point, a cada vídeo, a cada tarefa e a cada análise feita, o compromisso de todas, o engajamento e a vontade que necessariamente precisam existir naquelas que dedicam 3 horas semanais a pensar na alfabetização.

Pensar esse trajeto no Centro de Formação, de aluna a formadora, é muito profundo, emocionante e interessante. Desde a primeira aula do curso, no dia 17 de março, tenho tido o desafio de conjugar e equacionar, por um lado, a emoção que sinto quando penso no papel que agora tenho no Centro e, por outro, uma certa profissionalização que busco para organizar e estruturar um ano inteiro dedicado à alfabetização. Tem sido uma tarefa muito recompensadora e, certamente, o caminho desse grupo será dos mais proveitosos para todos nós do Centro, e para elas, de tantas e tantas escolas pensando e repensando a educação construtivista.