Uma viagem no conhecimento.

Por Lucinha Magalhães - Coordenadora Pedagógica do Centro de Formação da Escola da Vila

Decidimos antecipar a volta ao blog e, como é sexta-feira, é com muito prazer que nós, do Centro de Formação, somos responsáveis por reinaugurar este espaço.

As férias são fundamentais porque, em tempo certo, rompem com a rotina habitual, favorecendo um desligamento necessário e progressivo de preocupações e decisões que caracterizam o cotidiano do professor. Além disso, as férias nos brindam com oportunidades únicas, e que nos são muito caras, o que traz um sabor todo especial a esse período: as viagens a diferentes lugares, as leituras de livros de literatura (que muitas vezes, ao longo do semestre, acabam sendo preteridas pela exigência da leitura profissional), a apreciação de filmes, peças teatrais, shows e exposições, os encontros com amigos e a convivência mais intensa com a família. Não raramente, muitos de nós, mesmo nesses momentos, acabamos tendo novas ideias, vislumbramos perspectivas até então não consideradas no trabalho que realizamos com nossos alunos.

Porém, com a mesma consciência que temos da necessidade desse merecido descanso, como professores somos mobilizados a buscar conhecimento. Há quem considere isso uma loucura, mas o ofício de ensinar exige preparo para a volta ao trabalho. Não somente organizar materiais, mas conhecimento! É por essa razão que as férias pedem também trocas com outros educadores que, distanciados da sala de aula, podem refletir e discutir sobre temas que são importantes para a atuação profissional. O descanso e o estudo atuam como verdadeiras fontes de nutrição, como aliados e “aquecem-nos” progressivamente, ritualizando, assim, o ingresso em um novo semestre, o reinício do trabalho pedagógico.

Nesta semana, nossos professores e os de todo o Brasil participam da programação de férias. Cerca de 455 participantes estiveram e/ou estão até sábado na Escola da Vila e é inegável que constituem uma bela comunidade de aprendizagem. Pelo fato de os cursos estarem em andamento, o post da próxima sexta-feira, dia 5 de agosto, pretende compartilhar mais informações com vocês, leitores, dando continuidade a este tema.

Hoje, apresentamos o texto “Uma viagem no conhecimento” produzido por Maria Marta Borges Bergamaschi e Mirian José da Costa Clemente sobre a Viagem Pedagógica Internacional a Lisboa. Ambas atuam no Colégio Juscelino Kubitschek, localizado em Brasília, e parceiro da Escola da Vila por meio do Programa ZDP. E, como o texto chegou quando já estávamos de férias, é que o publicamos agora, valorizando a viagem como preciosa fonte de informação. Esperamos que apreciem!

UMA VIAGEM NO CONHECIMENTO

Por Marta Bergamaschi e Mirian Clemente

Em 28 de abril deste ano, partimos para Lisboa com a expectativa de enriquecer nossos conhecimentos e saberes no campo da Gestão Escolar e Formação de Professores. Conhecer outra cultura e nos divertirmos não estavam fora de cogitação.  Nada se diferenciou do que esperávamos. As aprendizagens foram "férteis" e Lisboa nos acolheu com a "leveza" desejada pela Escola da Vila. Como chegamos num fim de semana, fomos presenteadas com belos passeios por Lisboa e seus arredores. Quanta beleza, diversão e conhecimento cultural in loco.

 Na segunda-feira, logo pela manhã, iniciamos nossos trabalhos pelo Conselho Nacional de Educação. Conhecemos um pouco da estrutura organizacional e ação interventora daquele órgão nos rumos da educação portuguesa. Esse encontro aguçou nossa vontade de conhecer melhor o CNE de nosso país.

Continuando a programação, foi com encantamento que ouvimos o palestrante dr. Rui Canário sobre "os desafios da formação dos professores na Europa". O tempo voava em sincronia com as ideias que nos transportavam para as experiências pessoais. Rui Canário falava da exigência de formarmos professores altamente qualificados e altamente politizados. Estes deverão ser capazes de estabelecer conexões entre teoria e prática numa dimensão reflexiva. Assim chegaremos ao docente que instiga a curiosidade, que sabe ouvir, inovar, e transformar.

Para o grande educador português, "o professor não ensina aquilo que sabe, mas aquilo que é".  Daí a importância da boa formação. Alinha-se a tudo isso a escola do futuro, onde se desenvolve o gosto pelo ato intelectual de aprender, onde estudantes e professores passam de agentes a autores e ainda reconhecem o verdadeiro valor da aprendizagem: ler e intervir no mundo.

O cardápio de conhecimentos não parou por aí. Saboreamos os saberes dos mais diversos, com Maria Emília Brederode (Divisão Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular) e revista Noesis, com João Barroso, professor catedrático da Universidade de Lisboa, seguido por Ana Maria Bittencourt, doutora em Ciências da Educação e presidente do CNE.  Terminamos o cardápio do dia com o reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa. Foi um breve encontro, mas providencial, pois, neste momento, foi possível ir além da sala de aula e ter em mente o professor recém-graduado enfrentando os primeiros desafios de sua carreira. E que desafios! Geralmente essa experiência se dá na região periférica dos grandes centros urbanos.  Nóvoa comparou médicos e professores recém-formados: os primeiros são supervisionados por colegas experientes até poderem iniciar no caminho profissional, para o professor, ao contrário, poucas horas de estágio são suficientes, é lastimável, mas real.

Adormecemos repletas de interrogações e, no dia seguinte, iniciamos uma viagem pelas escolas portuguesas. A primeira a ser conhecida foi o Agrupamento Escolar Vialonga. Nesse espaço, presenciamos o cuidado com a inclusão, o incentivo dado à leitura, e a competência dos gestores desse agrupamento.

Seguimos para o Agrupamento Eça de Queirós, onde destacamos a organização dos espaços culturais bem como o trabalho incentivador da boa convivência entre estudantes. Jovens de séries mais avançadas, tutelados pelo professor de filosofia, assumem o papel de mediadores de conflitos entre os mais novos, principalmente nos intervalos. Pareceu-nos um trabalho bem interessante, e com possibilidade de sucesso. Desse mesmo agrupamento, visitamos também a escola integrada de primeiro ciclo Vasco da Gama, e conhecemos seus diferentes espaços: ateliê, bibliotecas, salas de aulas e pátios. Tudo muito bem organizado para atender aos estudantes com cuidado e precisão.

Depois de visitarmos duas escolas particulares que primavam pelo cuidado e suntuosidade do local, encerramos nossas atividades intelectuais no Fórum Português de Administração e Educação. Neste espaço, participamos de palestras e mesa-redonda convergindo num precioso momento com a dra. Beatriz Bittencourt. O tema foi: "Escolas que aprendem, da escola burocrática à escola aprendente".

Que avaliação podemos fazer dessa viagem? Rui Canário cita, na página 14 de seu livro O que é a escola – um olhar sociológico, o seguinte pensamento de Claud Bernard: “A ideia é a semente''. Trouxemos muitas sementes, agora nos resta agregá-las ao nosso canteiro de conhecimentos. Depois, regar e cuidar de todas elas, para que se potencializem em inovações qualificadas para os gestores, para os docentes e estudantes.