Por Tuna Serzedello
“O ser humano é teatro. Na natureza somos o único ser que é ator e espectador dos seus próprios atos. Todos podem fazer teatro, até os atores profissionais!” ¹
A arte de organizar cores e formas no espaço: artes plásticas.
A arte de organizar os silêncios no tempo: a música.
A arte de organizar ações físicas no tempo e no espaço: o teatro.
A importância do teatro na educação dos nossos adolescentes aparece já na sua própria definição.
O ator é aquele que age.
O adolescente precisa aprender a ser autônomo. Ensaiar para assumir o papel de protagonista da sua própria vida.
O teatro ajuda o jovem a entender esse papel.
O curso de teatro não tem como meta formar atores, mas formar cidadãos conscientes de sua história e que possam desenvolver no palco da vida papéis transformadores e importantes para sociedade como ele já fez no teatro.
O teatro na escola tem também a função de dar um novo significado esse espaço de aprendizagem. Na Escola da Vila, já transformamos em palco salas de aula, jardins, páteos, a antiga biblioteca e até o banheiro masculino! Estamos agora nos preparando para transformar as rampas de acesso ao refeitório em palco.
O teatro na escola, também tem a função de estudar o ser humano a partir das suas relações humanas, retratadas na dramaturgia, aqui já passamos por autores clássicos, contemporâneos e experimentamos escrever um texto coletivamente. Agora, estamos mergulhados no estudo da clássica “peça escocesa” de Shakespeare: Macbeth.
Trabalhar com os alunos e esta peça tem sido uma grande realização. Passar algumas tardes reunidos com eles, descobrindo significados escondidos no texto - “o poder legitimado pela violência” a “ilusão de segurança do poder” o “destino dos homens”- tem sido transformador. Sem contar a diversão das lutas cênicas e dos exercícios de coro.
Quando me pediram para escrever um texto sobre “por que teatro na escola?” todos os meus alunos me vieram à cabeça. Teatro não se ensina, se aprende. E para aprender precisamos de convivência, resolução de conflitos; pesquisa por conteúdos; paixão pelo que se estuda; vontade de descobrir; perseverança em perseguir o melhor, transformação do ser humano e, é claro, diversão. Será que esses não podem ser atributos para se definir o que é uma escola?
O teatro é o catalisador de todo o conhecimento humano. No palco reunimos conhecimentos das áreas de física, química, matemática, (não é à toa que os trabalhos de pesquisa dos atores são chamados de laboratórios!), línguas, filosofia, geografia, história e artes. Os alunos que fazem teatro tem a oportunidade de organizar melhor esse conhecimento e ampliar o seu aproveitamento acadêmico.
Sem contar a descoberta valiosa do poder das individualidades frente ao coletivo e a força dessas individualidades somadas em um grupo.
“Quando somos capazes de dizer nós, descobrimos o nosso verdadeiro eu...” ²
Podem dizer que estou superestimando o papel do teatro na escola, mas ainda acredito na educação como força propulsora das transformações da sociedade e, principalmente na escola como guardiã desse poder.
“O teatro é uma forma de conhecimento e deve ser também um meio de transformar a sociedade. Pode nos ajudar a construir o futuro, em vez de mansamente esperarmos por ele.” ³
Eu comecei a fazer teatro na escola, com 15 anos, muito do que eu acredito e pratico hoje, devo à escola, que permitiu a descoberta do meu futuro, em um passado que hoje, já é um pouco distante. Essa descoberta feita na minha adolescência, é reafirmada a cada encontro com esses meus alunos de hoje, que alimentam o eterno ciclo do teatro. O eterno ciclo da vida.
“A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre cômico que se empavona e agita por uma hora no palco, sem que seja, após, ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de som e fúria, significando nada.”
Fontes:
¹ Augusto Boal – em todos os seus livros você encontra essa citação!
² “Conjuntos analógicos e conjuntos complementares – Uma teoria para o teatro subjuntivo”, parte integrante do livro “O Teatro como Arte Marcial” de Augusto Boal. (Rio de Janeiro/2003/Ed. Garamond)
³ “Jogos para atores e não atores”, Augusto Boal (Rio de Janeiro/2007/Ed Civilização Brasileira)
Macbeth, de William Shakespere –tradução Jean Kablin Segall