Apontamentos sobre o intercâmbio Escola da Vila / Colégio de la Ciudad


Por Fermín Damirdjian

Os motivos para fazer intercambio são razoavelmente claros para todos os pais e filhos que colocam em pauta essa possibilidade: conhecer outra cultura, aprender uma língua, ter uma forte experiência de vida. E, na imensa maioria dos casos, o destino aponta para o hemisfério Norte – exceção feita ao exotismo sedutor de Austrália e Nova Zelandia.  Os tempos variam de 4 meses a um ano.

Em 2010, porém, a Escola da Vila inaugurou um modelo que, se não podemos dizer que é totalmente novo pois há de tudo no mercado da aprendizagem de idiomas, certamente podemos dizer que ele é bastante inusitado para os que se debruçam sobre como, quando, para onde e por quanto podem enviar seu filho(a) para uma viagem de intercâmbio.

Temos um curso de espanhol na Escola da Vila que ocorre ao longo do ano, com aulas semanais.  A necessidade de ampliar e de sedimentar as bases desse idioma coincidiu com um estreitamento de laços que se deu ao longo dos últimos anos com uma escola de Ensino Médio de Buenos Aires chamada Colegio de La Ciudad. Trata-se de uma escola privada, de muito bom nível acadêmico, que tem como principal característica a oferta de uma gama enorme de oficinas e trabalhos comunitários fora do horário de aulas. Coordenadas por professores, profissionais de diversas áreas e por ex-alunos da própria escola, os estudantes freqüentam oficinas de música, circo, escultura, jornalismo, literatura, pintura e outras. Ainda, além dessas atividades, há outras que são coordenadas pelos próprios alunos e são voltadas para o público do bairro, como aulas de informática para idosos, por exemplo.

Nessa escola de ambiente informal, acolhedor e extremamente produtivo em termos acadêmicos e culturais, a Escola da Vila encontrou um parceiro natural na capital argentina. Lá, assim como aqui, há também um curso de português, e é aí onde estão se entrelaçando os destinos de alguns dos nossos alunos.

Desde o ano passado tem se formado amizades de solidez avassaladora entre eles, a partir do programa de intercambio inerente aos cursos de língua de respectivas escolas. Como não poderia de deixar de ser, em virtude do perfil dessas instituições, a viagem de intercambio está densamente enriquecida por elementos afetivos e culturais que ampliam a experiência da aprendizagem do idioma.

Conhecer movimentos políticos, desenhos urbanos, a história e o modo de vida dos estudantes de um país e de outro é uma preocupação daqueles que coordenam o programa. Os alunos que tem procurado esses cursos de espanhol e de português tem respondido com curiosidade voraz às saídas que as escolas promovem em São Paulo e em Buenos Aires, além de tirarem o máximo de proveito das famílias onde se hospedam no sentido de se estenderem em longas e produtivas conversas com os pais adotivos na mesa do jantar ou em frutíferas saídas durante fim de semana. Como mencionado aqui anteriormente, as amizades resultante dessas experiências tem se mostrado firmes e prometem ser duradouras. São freqüentes os casos da primeira turma de intercambio (2010) nos quais os participantes aprenderam a conviver com a distância de um amigo querido, por um lado, enquanto por outro contam com uma família que passa a recebê-los pelo puro prazer de acolher esse “irmão” ou “filho”. Buenos Aires e São Paulo tornaram-se destinos certos – e acessíveis – a esses alunos.

Devido certamente ao acúmulo de experiência e à crescente sintonia entre a Escola da Vila e o Colegio de La Ciudad, o intercâmbio realizado neste ano gerou frutos ainda mais ricos.  Com os nove alunos participantes de cada país, formou-se um grupo de 18 alunos que criaram laços afetivos extremamente calorosos.

Os nossos alunos mostraram-se, ainda, atentos pesquisadores da cultura e da política locais, conhecendo ricas ações de movimentos sociais, indagando incessantemente os portenhos sobre a situação política e econômica do país, fotografando a arquitetura e intervenções urbanas, conhecendo diferenças e semelhanças em sua relação com o futebol, a vida nos bairros, a urbanização, a comida, a economia...

A proximidade geográfica permite que a viagem seja acessível, sendo realizada fora de temporada, e incorporando à escolaridade do trimestre em andamento as atividades desenvolvidas no país vizinho.

Podemos afirmar, com total segurança, que os ganhos são nítidos e duradouros para aqueles que encontrem aqui a oportunidade sobre como, porquê, quando, para onde e por quanto fazer uma viagem de intercâmbio.