A amizade na primeira infância


Por Daniela Munerato e Dayse Gonçalves

A amizade é um tesouro que descobrimos ao longo da vida. Em cada fase do desenvolvimento humano ela acontece de formas e intensidades diferentes. Portanto, entender um pouquinho como ela se dá pode ser bem interessante para compreendermos que o olhar dos adultos para esta questão pode ser bem diferente comparado ao das crianças.

Neste sentido, partiremos da seguinte afirmação: a amizade é um processo que envolve o descentrar de si, pois as crianças bem pequenas experimentam as relações de convívio para satisfazer os próprios desejos ou possam ser mediadas pelos adultos de referência. Isto posto, podemos dizer que tudo começa com a interação, favorecedora da formação dos vínculos, da observação das compatibilidades, do descobrir-se pelos olhos dos outros e do desejo da companhia de alguém.

Pela preciosidade e singularidade deste tema não é a toa que existem tantos livros e letras de músicas que nos fazem pensar sobre esta relação, porque para cada um ela terá significados diferentes. Algo para sempre? Não necessariamente, mas há memórias importantes reveladas nas histórias para contar: engraçadas, de muita cumplicidade ou aprendizado diante das diferenças.

Para as crianças próximas aos três anos de idade a amizade é concebida pela proximidade física. Olhando o mundo que os cercam com o egocentrismo que lhes cabe, os pequenos, em um primeiro momento, só desejam ter uma companhia para interagir, brincar. Nesta etapa de suas vidas a amizade é súbita, quase momentânea, sem nenhuma intenção de permanência. Portanto, todo aquele que aceita compartilhar uma brincadeira será visto como amigo e, nesta fase, não importará a idade ou sexo do companheiro. E assim, os vínculos vão estabelecendo -se a partir das interações ocasionais, quando as crianças passam a ter compatibilidades que favorecem novos encontros.

Por volta dos quatro anos de idade, as crianças estarão muito atentas às diferenças de uma forma geral, principalmente entre os companheiros de seu entorno e convívio. Assim, as características físicas ficarão evidentes, bem como as preferências e consequentemente o que pertence aos gêneros.  É fato que uma curiosidade imensa toma conta destes pequenos que desejam justamente descobrir e compreender tantas diferenças observadas. O critério agora será conviver bem e conhecer melhor o outro por uma curiosidade despertada. Portanto, eles brincam muito juntos e nesta etapa do desenvolvimento as parcerias podem ser mais fixas.

Aos cinco ou seis anos de idade teremos outra mudança nestas relações, pois esta é a fase da identificação para a formação da identidade. Muito atentos aos adultos de referência do mesmo sexo como figuras importantes de identificação, observamos que as crianças tenderão a agruparem-se por gênero, na maioria das vezes, revelando o que é de cada um, desde as cores até brincadeiras e personagens. Normal? Sim, mas nós adultos podemos intervir para favorecer a integração entre todo o grupo sempre. Por esta razão, vale considerarmos convidar meninos e meninas diversos para brincarem nas nossas casas, da mesma forma que  os professores formarão parcerias de trabalho dentro da escola, considerando este entre outros fatores mais ligados ao pedagógico.

E apesar da fragilidade das amizades na primeira infância, sabemos que valores importantes desta relação já serão cultivados desde as primeiras experiências, como o respeito, a confiança, o poder contar sempre... e que tais valores serão cada vez mais compreendidos e valorizados durante este processo de construção e de vivência do conceito chamado Amizade.