Lugar de encontro

Por Marisa Szpigel

O dia 25 de agosto foi dia de encontro na Escola da Vila. Isto porque “Um Pouquinho de Brasil”, evento que sempre acontece no último sábado de agosto, tem como proposta reunir as famílias para apreciar os trabalhos realizados pelos alunos da escola e também para participar de oficinas. A ideia é cultivar o hábito de compartilhar saberes, e, entre muitos outros, o saber que se faz mais presente neste dia é o saber fazer.

Quando apreciamos os trabalhos das crianças, logo ficamos a imaginar como fizeram, qual foi o percurso percorrido, o que pensaram, enfim, como chegaram a estes resultados. As oficinas pensadas para este dia têm por objetivo revelar parte deste processo tão intenso. São propostas que dialogam com os estudos das crianças, que favorecem estabelecer relações novas com o que estão aprendendo no dia-a-dia das aulas de arte. Queremos colocar o processo em evidência.

Entrelaces entre arte e cultura

Cada ambiente deste dia tão aguardado é pensado de modo a potencializar conexões entre o fazer, o apreciar e o pensar. Por exemplo, este ano, os boizinhos de argila
realizados pelos alunos dos primeiros anos estavam expostos bem próximos da oficina de argila proposta por Bia Camargo. Logo ao lado, os Figureiros de Taubaté mostraram suas delicadas chuvas de galinha feitas de barro pintado com o azul tão peculiar às suas criações.

No caminho para a oficina de pipa, alegremente ministrada pelo professor de Educação Física Fábio, estavam as telas pintadas pelos terceiros anos. Muitas destas telas mostravam a possibilidade de brincar com formas e cores, assim como fez Alfredo Volpi, um dos mais importantes artistas brasileiros. E o que é fazer pipa? É construir com formas e cores, para depois colocar a composição para voar.

As ilustrações dos alunos dos quartos anos mostram as complexas imagens elaboradas a partir da leitura de contos populares. É... quem ilustra um conto, aumenta um ponto (ou uma linha...). O divertido é ver como, a partir de uma mesma narrativa, muitas imagens podem ser criadas. Os alunos estudaram as imagens de J. Borges e as ilustrações de Ricardo Azevedo, experimentaram a linha da gravura e a linha do desenho para elaborar as ilustrações, repletas de uma diversidade de linhas.
Ali, bem pertinho, estavam as xilogravuras dos nonos anos. Se, no quarto ano, a matriz para fazer gravura é uma placa de argila, no nono, o desafio está em elaborar uma imagem cortando a madeira. No nono, a arte popular é retomada, as referências são aprofundadas. J. Borges é apreciado, ao lado de Samico e Goeldi.

Linhas coloridas para bordar e tramar estavam no salão, logo na entrada da escola. Organizadas em aconchegantes cantinhos ficaram as bordadeiras, mães de crianças que frequentam o Instituto Acaia, ONG que atende a comunidade no entorno do Ceasa, e a oficina de tear, cuidadosamente pensada por Clarissa, artista e ex-aluna da Vila. Quem experimentou bordar viu na ponta da agulha que a tarefa não é simples. A própria experiência transforma o olhar. Por esta razão, ali, bem pertinho, estavam os bordados tão delicados dos alunos dos primeiros anos.

Quem esteve lá experimentou um pouquinho de Brasil: os entrelaces entre a arte e a cultura.