Associar palavra a desenho ou sons isolados as letras: o oposto da alfabetização construtivista

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Por Andréa Luize – Coordenação do Núcleo de Práticas de Linguagem

Certamente, muitos de nós, hoje adultos, podemos reconhecer nos exemplos acima a forma como fomos alfabetizados: juntar letras e ir compondo sílabas, associar sons as letras e depois juntá-las em sílabas, depois, compor palavras e chegar às frases, etc. Durante muitos anos, vários métodos de alfabetização se ocuparam de ensinar o que defendiam como a técnica da escrita, sem considerar de que modo as crianças lidavam com esse objeto de conhecimento.

Importantes e renomadas pesquisas no campo da psicologia e da didática, que se tornaram base para o ensino numa abordagem construtivista, trouxeram outros modos de ver essa tão importante conquista que é aprender a ler e a escrever. Reconhece-se, na atualidade, que ser alfabetizado representa muito mais do que saber formar sílabas ou escrever palavras. Significa ter domínio sobre as situações em que a língua oral e a língua escrita são usadas socialmente.

Essas pesquisas também mostraram que as crianças são seres pensantes e atuantes e que procuram entender, de maneira intensa e sistemática, como funciona o universo à sua volta, o que também engloba o uso da língua. Não procuram associar sons as letras ou palavras a desenhos, pois o mundo da escrita que os rodeia é muito mais vasto e rico, no qual interagem com diferentes textos, com escritores e com leitores. Basta que caminhem nas ruas para que esse mundo se apresente a elas!

Alfabetizar, numa perspectiva construtivista, significa permitir que essas crianças se apropriem, gradativamente, não apenas da escrita alfabética, mas também dos procedimentos que escritores experientes colocam em jogo, como planejar e revisar, e das diferentes características e funções que os textos possuem como instrumentos de comunicação.

Além de tudo isso, não entendemos a escrita como uma técnica ou um código. Longe disso, trata-se de uma construção histórica e social, pautada em princípios e conceitos que serão compreendidos pelas crianças. Por isso, não se aprende a ler e a escrever alfabeticamente juntando letras e compondo sílabas e tampouco relacionando desenhos a palavras. Aprende-se a ler a e escrever, lendo e escrevendo textos, observando e discutindo a produção de textos com adultos e colegas, refletindo sobre semelhanças e diferenças entre as escritas.

Assim, caso ouçam que uma criança está aprendendo a ler e a escrever a partir de imagens e de palavras ou repetindo fonemas e associando-os as letras, saibam que, numa escola construtivista, com certeza, esta criança não estuda!