Mito: No ensino construtivista os conteúdos não são sistematizados

Por Lilian Ceile Marciano - Coordenação do Fundamental 1

Um mito muito comum quando se pensa o ensino da matemática no ensino construtiva é de que os conteúdos não são “fixados”. Se considerarmos que fixar é repetir o mesmo exercício muitas vezes, da mesma maneira e desde o início da aprendizagem, poderíamos dizer que não trabalhamos com exercícios de fixação, mas, um olhar mais atento ao processo de ensino realizado na Escola da Vila mudaria por completo a resposta a essa questão.

A experiência de muitos de nós, como estudantes de matemática, possivelmente nos remeta a lembrança da professora que explicou como se fazia a “conta de mais”, que tomaremos aqui como exemplo, à repetição de muitas contas e a realização de uma lista de problemas (só de mais, porque ainda não estávamos autorizados a subtrair).

Mais tarde, depois de feito o mesmo processo com a conta de menos, resolvíamos problemas que envolviam as duas operações. Começavam então as dificuldades, afinal, como saber quais eram resolvidos com uma operação ou com outra? Nesse contexto era (e ainda é) comum que os professores ouvissem a pergunta: “esse problema é de mais ou é de menos?”

Nossos alunos fazem um percurso bastante diferente desse e certamente por isso raramente ouvimos esse tipo de pergunta. Desde muito pequenos eles somam. Fazem isso nas mais diversas situações: nos jogos, resolvendo problemas,  ou em situações em que o desafio é resolver um cálculo especificamente. Não fazem isso treinando o que a professora ensinou, mas buscando estratégias a partir do que já sabem sobre os números e sobre as operações; fazendo uso do que foi discutido (ensinado?) em sala de aula, a partir de questões e explicações trazidas pelas professoras. Não fazem isso, deduzindo, sozinhos, o saber matemático, mas sim a partir de uma análise, bastante detalhada para as diferentes faixas etárias e sob a orientação cuidadosa e bem planejada pela equipe de professores.

É verdade que “esperamos um pouco mais” para fazer a introdução da “conta armada” e isso acontece porque o trabalho, antes disso, tem outro foco: o cálculo mental, a propriedade aditiva do sistema de numeração, o valor posicional dos algarismos, que se explicitam nas estratégias utilizadas pelos alunos.

Quando se avalia avanços suficientes relativos a esses conteúdos, o algoritmo convencional da adição passa a ter lugar na sala de aula: os alunos analisam e explicam o que observam, levantam questões, o professor também traz informações, explica. Há um momento de exploração sobre esse saber e, depois disso, diversas propostas são realizadas para que esse conhecimento esteja disponível e os alunos possam acessá-lo facilmente. É certo que nesse momento os alunos fazem várias “contas de mais”, mas não fazem apenas isso: analisam os erros que comentem, os erros cometidos pelos colegas, explicam o funcionamento e a lógica desse algoritmo, entre tantas outras propostas.