A alimentação de nossas crianças

face

-

Por Dayse Gonçalves - coordenadora pedagógica da Educação Infantil e
 Elaine Monteiro Maielo Occhialini - nutricionista

“Pesquisar para compreender, compreender para interagir”
Maria Cristina Faber Boog

A Escola da Vila acredita no seu papel formador e motivador de hábitos alimentares saudáveis para seus alunos do Período Complementar e desenvolve tanto ações dirigidas às crianças e suas famílias, como para a formação de seus professores.

Estas ações já são reconhecidas na comunidade científica, com a apresentação do trabalho que desenvolvemos em congressos e palestras.

As mesmas foram desenvolvidas a partir da análise do comportamento alimentar das crianças, consumo e características desta faixa etária. Apresentamos abaixo algumas dessas ações.

■Oferecer refeições por meio de cardápios planejados, sendo os mesmos acompanhados e avaliados pelos professores e nutricionista. As preparações são diversificadas, para melhorar a aceitação de novos alimentos.

■ Beber mais água nos intervalos das atividades, para repor as perdas com as atividades físicas, assim como melhorar a aceitação dos alimentos às refeições.

■ Valorizar o horário das refeições, estabelecendo uma rotina de atividades para motivar o consumo alimentar adequado e também proporcionar o convívio social e trocas de experiências, tanto de natureza alimentar como culturais entre os alunos. No lanche, as refeições são iniciadas pelas frutas, e, no almoço, pelos legumes e verduras. Na sequência, as crianças são convidadas a se servir dos demais alimentos que compõem as refeições, se responsabilizando pelos volumes. Ao final, a sobremesa e o suco, para possibilitar a aceitação de todas as preparações.

■ Manter-se sentado, comer com garfo e faca e esperar os amigos finalizarem a refeição também são atitudes valorizadas às refeições.

■ Apresentar novos alimentos para aumentar o repertório. Experimentar é uma rotina diária e muito estimulada pelos professores. As aulas de Culinária também ampliam as preferências das crianças, além de possibilitar a identificação de alimentos.

Muito trabalho e muito empenho têm como consequência resultados expressivos durante a permanência dos alunos na Escola. Por essa razão, consideramos que seria importante verificar se as ações realizadas no ambiente escolar, no caso do Período Complementar, em que as crianças realizam duas refeições - lanche matutino e almoço - vinham influenciando na mudança de comportamento das crianças em casa, e se a família reconhecia estas mudanças. Para tanto, elaboramos uma pesquisa com o objetivo de verificar se as crianças:

- respondiam positivamente quando convidadas a experimentar novos alimentos;

- mudaram o comportamento diante das situações de alimentação, sobretudo em relação à aceitação de alimentos que antes recusavam;

- apresentavam maior autonomia nos horários das refeições em casa.

As refeições na escola têm como objetivo serem organizadas, prazerosas e promotoras da alimentação adequada, e, como são feitas em grupo, potencializam a formação de atitudes importantes para o desenvolvimento dos pequenos, além de esperarmos que possam ser mantidas na vida adulta. Além de fornecer alimentação variada e equilibrada - importante para o crescimento e desenvolvimento corporal - favorecemos a formação de valores culturais relacionados aos alimentos e à comensalidade (o comer em grupo, o comer compartilhado, o prazer de comer e o prazer à mesa).

Consultamos 37 famílias, sendo a maioria delas da unidade Morumbi, já que lá é maior o número de alunos que frequenta o Complementar. Destas, 59% responderam à pesquisa, e os resultados indicam que 55% fazem referência a mudanças no comportamento alimentar em relação a aceitar alimentos que antes recusavam e experimentar outros novos. Verificamos, também, que estas mudanças são mais significativas na população que frequenta o Complementar vários dias da semana. Nesse universo, 82% das famílias fazem referência a estas mudanças.

Para avaliar a evolução da construção da autonomia frente às situações de alimentação, elegemos alguns comportamentos que dizem respeito a rotinas estabelecidas na escola que guardam relação com a construção da comensalidade. Os resultados foram muito positivos no sentido de que a maioria das famílias faz referência à introjeção de hábitos, como espontaneamente lavar as mãos antes de fazer as refeições, habilidade para utilizar talheres (garfo e faca), disposição para comer mais legumes, verduras e frutas, e para se manter sentado durante as refeições.

Como se pode verificar, a escola, ao promover a alimentação adequada aos seus alunos, institui com as famílias uma parceria muito promissora.