A importância da formação do professor leitor para o trabalho com a Literatura na escola.

25_10_2013

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Eu? Leitor?

Por Bárbara Franceli Passos

Qual foi o último livro que você leu? Você se recorda do motivo que o impulsionou a essa leitura? Com que frequência você lê, e com qual finalidade? Onde costuma ler? Em quais horários dedica seu tempo à leitura? Quais são os seus autores, gêneros, assuntos e temas preferidos? Você prefere ler sozinho ou partilhando o livro? Qual o sentido da leitura em sua vida?

Muitos questionamentos podem fazer parte de nossa rotina como leitores! Indo nessa direção, podemos ainda nos perguntar: “Que tipo de relação estabelecemos entre o nosso movimento como leitores e o nosso fazer em sala de aula?”.

Na função de mediadores de leitura, temos a oportunidade de tratar de diferentes aspectos que envolvem o universo literário: compartilhar títulos, autores e ilustradores; conversar sobre estratégias e hábitos leitores; refletir acerca dos diferentes sentidos presentes nos textos. Em todas essas situações, nos apresentamos, também, como modelo de leitor para os nossos alunos e assumimos o papel de “ensinar a ler”.

Nesse contexto, é relevante destacar que o nosso próprio caminhar como leitores e pessoas que “ensinam a ler” vai além de compartilhar títulos, ler junto e refletir sobre o lido. É isso e muito mais. Quando nos assumimos leitores, observamos que, muitas vezes, assumimos também uma postura diante das descobertas sobre a vida e as coisas do mundo, pois a leitura pode despertar em nós o desejo de desvendar aquilo que nos inquieta e nos atrai de algum modo. Por essa razão, conversar sobre a relação que temos com a leitura e a literatura torna-se fundamental no processo de troca e intercâmbio de experiências. Afinal, quando falamos informalmente com os alunos sobre os livros de que gostamos, compartilhamos as nossas idas à livraria e socializamos o que sentimos durante a leitura de determinado título, colocamo-nos numa atmosfera de troca extremamente favorável à ideia de que “viver a literatura” é também criar uma autoimagem leitora.

Dessa forma, estamos contribuindo para que os nossos alunos percebam que os livros e a literatura existem dentro da escola e também fora dela. Por isso, cada leitor deve ficar atento à necessidade de ampliar as suas estratégias de busca e compreensão acerca do que lê e também alargar os seus passos rumo ao encontro com os livros.

Nesse contexto, para alimentar essa ideia e refletir a respeito de nossas posturas leitoras, podemos comungar com Manguel (2012), quando ressalta que “é o leitor que confere a um objeto, lugar ou acontecimento uma certa legibilidade possível, ou que a reconhece neles; é o leitor que deve atribuir significados a um sistema de signos e depois decifrá-lo. Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender ou para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é nossa função essencial”.

Se ler é, então, função essencial, precisamos investir em situações que favoreçam o nosso acesso aos livros e às experiências leitoras. Sendo assim, é importante que nós, professores leitores, e nossos alunos, tenhamos possibilidade de estabelecer uma relação viva e intensa com os livros. Além disso, é fundamental que nos reconheçamos como leitores e que, acima de tudo, encontremos sentido no ato de ler. Mas será que, enquanto mediadores de leitura, assumimos esse papel? Compartilhamos com os nossos alunos o sentido da leitura em nossas vidas? Falamos de nossas experiências leitoras com eles? Verbalizamos sobre os momentos em que as leituras aparecem em nossa rotina?

Sim, somos professores. E, por essa razão, na maior parte do tempo, temos a tarefa de escolher o que o nosso aluno deverá ler. Diante dessa atribuição, portanto, precisamos conhecer intimamente o trabalho de autores, ilustradores e editoras, dado o intenso crescimento do mercado editorial, a fim de garantir escolhas acertadas, coerentes e pertinentes, considerando os interesses, desejos de nossos alunos e habilidades que eles precisam desenvolver como leitores na etapa da vida escolar da qual fazem parte. Porém, temos essa familiaridade necessária com o título a ser trabalhado com as nossas crianças em sala de aula? Temos, de fato, o hábito de pensar em nosso repertório leitor quando definimos o(s) livro(s) com o(s) qual(is) trabalharemos? Costumamos avaliar as nossas escolhas, na medida em que entendemos a importância de favorecer uma convivência significativa de nossos alunos com os livros?

Para Humberto Eco, “um texto não apenas se apoia em uma competência, mas também contribui para criá-la”. Dessa forma, quando selecionamos textos/livros para ler com os alunos, estamos “selecionando degraus” para construir “escadas” na formação do leitor. Partindo das ideias de Eco, podemos então nos questionar ainda: “Estamos favorecendo a ampliação do olhar dos alunos para os livros e para a leitura?”. Tal pergunta nos instiga a dialogar com Yolanda Reyes, quando ressalta: “Um professor de leitura é, simplesmente, uma voz que conta; uma mão que abre portas e traça caminhos entre a alma dos textos e a alma dos leitores. Seu trabalho, como a literatura mesma, é risco e incerteza. Seu ofício privilegiado é, basicamente, ler. E seus textos de leitura não são apenas os livros, mas também os leitores. Não se trata de um ofício, mas de uma atividade de vida. No fundo, os livros são isso: conversas sobre a vida. E é urgente, sobretudo, aprender a conversar”.

Partindo do diálogo com esses autores, podemos ainda enfatizar a necessidade de refletirmos acerca das estratégias que comumente utilizamos para desenvolver as nossas propostas de trabalho com a leitura e a literatura na escola, atentando, principalmente, para a ideia de que construímos leitores a cada dia, a cada escolha, a cada livro lido e estudado com os nossos pequenos alunos. Nesse sentido, concluímos (por enquanto) dizendo: encontrar possibilidades efetivas para que alunos e professores se (re)conheçam leitores, juntos, pode ser um importante caminho para o desenvolvimento de práticas ainda mais significativas no universo de trabalho com os livros, com a leitura e a literatura. E cabe aqui mais uma indagação: “Quais caminhos são possíveis?”. Parafraseando Reyes, arriscamo-nos a indagar ainda: “Trouxeste a chave da porta?”.