Tem uma criança que incomoda meu filho. O que vocês estão fazendo para “contê-la”?

Boy Playing

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Por Andrea Polo

É muito comum que pais e mães queiram propiciar a seus filhos um ambiente onde jamais sejam submetidos a qualquer tipo de incômodo. No entanto, mais cedo ou mais tarde, estes serão expostos a provocações e a questões impostas por diferentes maneiras de agir e de entender as relações interpessoais.

Se em muitas casas o diálogo sempre prevalece, e isso basta para orientar e organizar a “bagunça”, na casa do vizinho outras estratégias podem ser usadas, e, sem dúvida, as crianças trarão esse conhecimento para o espaço escolar. Muitas vivências encontram-se nesse ambiente educativo, e vale lembrar que tanto uma família quanto a outra escolheram o mesmo projeto pedagógico para seus filhos. Nesta escola, as diferenças são acolhidas, vividas e experimentadas diariamente e, a partir delas, o trabalho acontece de forma concreta.

Frequentemente, ouvimos as seguintes falas de crianças pequenas:

- “Meu pai falou para eu empurrar de volta se alguém me empurrar”.

- “Meu pai disse que se eu bater eu perco a razão e fico igual a quem me bateu”.

- “Minha mãe me disse que eu preciso avisar a professora antes da briga começar”.

- “Minha mãe falou que eu não posso me meter em confusão, de jeito nenhum”.

Em meio a opiniões divergentes e a questões que fazem as crianças pensarem não apenas sobre seu próprio ponto de vista, mas a partir de uma ótica que procura incluir o ponto de vista do outro, e tendo como ponto de partida o princípio do respeito mútuo, planejamos diversas abordagens para nossas ações: encorajar e fortalecer o grupo para tratar dos incômodos como algo que merece dedicação e tempo é uma das ações que favorece e responsabiliza cada criança.

Escolhemos o diálogo para tratar das regras de convivência como ponto de partida para toda e qualquer situação, sobretudo no fórum coletivo. As partes envolvidas têm o direito de falar enquanto os adultos encaminham o conflito demonstrando respeito pelos valores de cada um, demarcando limites claros. Os professores são reconhecidos como pessoas que possuem autoridade moral, capazes de negociações justas. A partir da observação de muitos exemplos de diálogo, em diferentes contextos, as crianças vão se instrumentalizando para atuar com crescente autonomia em situações semelhantes.

Para pensar e agir diante de pressupostos democráticos, é fundamental que o grupo seja o foco principal e ofereça elementos para que o indivíduo manifeste desagrado quando se sentir prejudicado. Dessa forma, os alunos que “incomodaram” atuando de forma inadequada podem perceber as consequências de suas ações atreladas ao conjunto de crianças que se opõem e não isoladamente.

Aprender a lidar com os próprios desejos e frustrações e entender que os desejos dos outros podem ser bem parecidos ou muito diferentes, controlar a própria raiva e saber falar sobre o que está sentindo é também aprender que, diante de uma provocação, a indignação é aceitável, reconhecendo o que não é permitido, como, por exemplo, os atos de agressão.