Adaptados? Crianças e familiares nas idas e vindas do processo de adaptação.

Por Andréa Polo

Para falar sobre adaptação, aguçamos todos os nossos sentidos, especialmente aqueles que nos fazem ver o que não é explícito, ouvir o que não é dito e tocar o que, até então, para alguns, era território exclusivo da família. Este período é marcado por muitas situações que são previstas para os professores, mas que, para a maioria dos pais, apresentam-se do mais improvável ao mais surpreendente em frações de segundos:

11_3_2015

- Nossa! Ela estava tão bem, agora fica agarrada desse jeito!

- Não acredito! Não chorou? Vocês não fazem ideia do escândalo que ele fazia no ano passado...

- Eu não posso sair de perto dela! Minha permanência ajuda. Se precisar de colo estou aqui para dar!

- A professora estava atendendo outra criança, eu me levantei correndo e dei água prá ela, assim minha filha entende que pode contar comigo! Não é assim que se faz? Fiz certinho?

- Só vou ficar escondida aqui um pouco para saber se ele ficou bem!

- Tenho que olhar para a adaptação do meu filho, um dia de cada vez, pode ser que amanhã as coisas mudem, pode ser que amanhã ele esteja mais firme ou volte a chorar?

Todos os comentários foram partilhados na escola durante as primeiras semanas de adaptação, quando as famílias estão imersas no processo de “entrega”, cada uma com seus questionamentos, dúvidas, choros e toda sorte de sentimentos ambíguos provocados pelas manifestações de seus filhotes.

Com o passar dos dias, os vínculos afetivos entre as crianças e seus professores se concretizam, assim como as famílias também passam a identificar e a compreender alguns princípios que regem determinadas ações dos educadores. As dúvidas abrem caminho para observar as novas relações estabelecidas por seus filhos. O que era uma grande preocupação ou uma incerteza passa a residir num território mais seguro e confiável.

A entrada na escola ou a mudança de instituição representam múltiplos desafios vividos nos campos emocional, social ou acadêmico. Quantos sentimentos que as crianças não sabem e nem podem nomear, mas que são de extrema importância neste percurso de desenvolvimento! Para passar pelo período de adaptação das crianças e construir uma boa parceria com os professores, é importante:

- Saber que num dia a criança chega sorridente e no outro pode desabar num choro enorme - as reações ao novo variam muito e os pequeninos precisam da garantia de que seus pais estão firmes e seguros no propósito de mantê-los na escola.

- Entender que a tranquilidade dos pais é um fator necessário para que os filhos se aproximem de outros adultos, com os quais estão começando a estabelecer vínculos e que, portanto, ainda ficam titubeantes diante deles, especialmente se os pais titubearem também.

- Deixar claro para os filhos que todos os combinados estabelecidos com seus professores serão cumpridos - hora de buscá-los, locais de espera, objetos guardados.

- Não oferecer nenhum tipo de recompensa (presentes), nem fazer alguma troca para que a criança deixe de chorar ou deseje ficar na escola - mesmo com todas as dificuldades que existem no período de adaptação é necessário que esse tempo seja vivido, chorado e comemorado como meio de compreender as demandas infantis e os avanços nas relações com pessoas diferentes daquelas já tão conhecidas.

- Conversar com outras famílias que já passaram por essa etapa da escolaridade dos filhos, porque a experiência ajuda a ponderar e a fazer previsões.

- Buscar apoio com a equipe da escola (orientadores e professores) que explicitam algumas decisões e orientam certas práticas para favorecer diálogos nos momentos de maior fragilidade dos filhos.

Assim, completando nosso primeiro mês de aula, acompanhamos mais vindas e encontros, acolhimentos e experiências, representando as trajetórias singulares de nossas crianças na Escola da Vila.