Os espaços afetivos construídos no período de adaptação

Primeira semana na educação infantil

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Por Andrea Polo

Passado praticamente um mês e meio do início do ano letivo, já vivemos intensamente as primeiras semanas, aqueles dias das grandes novidades, dos choros mais intensos. Mesmo depois dos tempos mais "turbulentos", ainda precisamos nos manter atentos e muito cuidadosos com um período que, na realidade, não tem uma data específica para terminar. Varia de criança para criança e de família para família.

Por essa razão, penso que vale a pena compartilhar uma experiência que vivi no início do ano, mas que, oportunamente, revela muito do desejo atemporal de construção de uma parceria consistente entre escola e família.

No período de adaptação, durante muitas idas e vindas das crianças até seus familiares, acompanhei uma conversa entre pai e filho que merece ser registrada por muitos motivos: pela firmeza das palavras do pai levando o filho a confiar no espaço e nas pessoas da escola, pelo carinho exposto em gestos e, principalmente, pela convicção desse pai em relação a cada orientação dada ao filho. A mim, como expectadora, não restavam dúvidas de que havia sido feito um pacto entre eles e que, mesmo que o filho não fosse capaz de cumprir imediatamente os acordos travados ali, entre um choro, um abraço e um beijo, seu pai continuaria firme, acreditando na potência daquela conversa, tão íntima e ao mesmo tempo pública, à medida em que acontecia entre muitos olhares, inclusive o meu! Confesso que meus olhos se encheram de água várias vezes, assim como os do menino de quatro anos, mas o pai estava ali, com seu corpo todo voltado para amparar o filho, ao mesmo tempo em que depositava na professora toda confiança necessária para que seu pequeno também fizesse uma boa transição (entre sua mão, tão conhecida e terna, para a da professora, de quem ainda se tem poucas garantias de que mesmo diante dos imprevistos, tudo pode correr bem).

Jamais conseguiria descrever o que presenciei, porque meu envolvimento emocional era grande demais para retomar palavra por palavra, mas meu registro não tem a intenção de ser literal nos termos empregados pelo pai ou pelo filho, apenas gostaria de marcar minhas observações enquanto educadora, particularmente envolvida na orientação de pais e professores, e completamente apaixonada por esses “espaços afetivos” que construímos quando temos disponibilidade para olhar e ouvir detalhes, sem deixar que a pressa da resolução do conflito nos “atropele”. Em meio a tantas novidades, é mais do que esperado que as crianças tenham dúvidas quanto a este novo ambiente chamado “Escola”, mas os adultos, que também têm suas próprias questões quanto à adaptação de seus “filhotes”, precisam atuar como parceiros dos professores! Nenhuma relação se constrói da noite para o dia. Damos um passo de cada vez em direção aos vínculos de confiança e entrega mútua e, para que esses pequenos passos se constituam numa longa caminhada, contamos com a escuta atenta de cada família em relação às orientações dadas pelos diferentes profissionais da escola.

Sabemos o tamanho das expectativas de cada família para que tudo corra bem no processo de adaptação à nova escola, ou simplesmente a uma nova rotina, ainda que seja esta na mesma escola! Desse modo, posso afirmar, com toda convicção, que, ainda que cada criança precise de tempos e tipos de apoio diferentes, o acolhimento permanece o mesmo, baseado nos requisitos afetivos mais delicados: confiança, proteção, conhecimento, firmeza e perseverança!