A adolescência, o grupo e o mundo virtual

Por Angela de Crescenzo e Flavia Stuart Secaf

A adolescência pode ser considerada uma fase de mutação. Mudam-se as crenças, mudam-se os hábitos, mudam-se os grupos, mudam-se os corpos. Acompanhando todas essas mudanças, e como consequência delas, começam a aparecer os riscos, as angústias, as inseguranças.

É tempo de romper com a infância, de separar o imaginário do real. Tempo de ter incertezas demais e proteções de menos.

Faz parte da vida do adolescente o ser frágil. Nesta fase, os meninos e meninas passam a ser objeto de questionamento para os adultos, pois começam a caminhar com suas próprias pernas pelos trajetos cheios de projeções recebidas e limites impostos pela sociedade.

Entrar na adolescência, muitas vezes, significa sair da família. Sair da família, aqui, não quer dizer sair de casa ou deixar de confiar e contar com os familiares, mas sim deixar de tê-los como modelos absolutos de todas as coisas e passar a se misturar com outros grupos, espelhando-se neles. É importante que esse afastamento ocorra, pois é uma maneira que os jovens encontram de testar sua independência e autonomia. Nesses novos grupos, que passam, então, a ser a “nova família”, buscam novas experiências, para que possam construir sua própria identidade. Os jovens têm uma crença muito forte na amizade, e essa crença, quase cega, muitas vezes acaba por trazer grandes decepções e sofrimentos.

Os adolescentes precisam encontrar um lugar no grupo e, para isso, atualmente é preciso aparecer no mundo virtual, se expor, postar fotos, fazer comentários, curtir o que os outros postam, independentemente do que seja, “confidenciar segredos”... Mas toda essa rede de amplificação daquilo que é particular acaba tornando os jovens mais vulneráveis e ainda mais suscetíveis a influências, tanto do próprio grupo de amizades, quanto dos meios externos, como o mundo virtual. Por ainda terem poucos recursos para lidar com toda esta exposição, acabam passando por momentos difíceis de decepções e frustrações, que, normalmente, aconteceriam com jovens de qualquer época, mas que, agora, são amplificados para os amigos, amigos dos amigos, e assim por diante.

Alguns adolescentes, quando perguntados a respeito desta exposição e de como vêem esta dependência de aprovação via mundo virtual, dizem:

“É meio viciante”.

“Precisamos ficar por dentro de tudo que acontece”.

Esses comentários só reforçam o que já foi colocado. Estar no mundo virtual é essencial, e ter muitos amigos no facebook torna o adolescente mais importante no grupo. É preciso saber de tudo o que acontece, pois ter as informações corretas é também sinônimo de poder nesse meio.

Com tantas influências do meio, com a enorme gama de informações que chega por todos os lados e com a fragilidade inerente à idade, que dificulta a construção de uma autoimagem segura, os adolescentes acabam se colocando, ou sendo colocados, em situações de risco ou perigo. Ao se depararem com tais situações, são tomados, muitas vezes, por aquela fantasia de que “nada vai acontecer comigo”, que nada mais é do que um elemento de defesa que possibilita o convívio das emoções do sujeito com um mundo externo inseguro. Esta fantasia é conhecida como “pensamento mágico” (Outeiral, 2005), e é muito comum em crianças e adolescentes, que têm maior facilidade em se identificar com personagens e se apegar na “garantia” de que os problemas serão resolvidos, resultando em mais um "final feliz".

Com a fantasia de que “comigo isso não acontece” tão presente, é muito difícil o adolescente ter a dimensão da grandeza e do poder do mundo virtual, onde, por exemplo, uma foto postada para os amigos se espalha com tamanha facilidade, que fica impossível ter o controle da ação inicial, pois “caiu na rede é peixe”! Muitas vezes, o desejo de ser aceito impulsiona o jovem a um intenso grau de exposição, sem antecipar as consequências que lhe podem surgir, tornando a questão cada vez mais difícil de ser administrada, tanto sozinho quanto com a ajuda dos colegas. É o caso das “brigas” marcadas por grupos fechados pelo facebook. Os jovens, embora apresentem um discurso em que afirmam saber que este é um ambiente público, parecem não conseguir ter a dimensão do que isso pode significar. Talvez nem os adultos consigam dimensionar este ambiente devidamente.

Não se trata de demonizar as mídias sociais, pois sabemos que elas podem ser utilizadas para o exercício da cidadania e da democracia. O que nos preocupa é a forma e o excesso de exposição dos adolescentes nas redes sociais. Usar, dentro da medida do possível, o poder de antecipação, é o que nós, adultos, podemos fazer para ajudá-los a construir essas referências que ainda não estão disponíveis para ninguém.