A cara da Arte

Sobre incentivar a criatividade, a curiosidade e o desejo de seguir aprendendo.

17_03_2014

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Por Karen Amar e Marisa Szpigel (Zá) 

O que queremos mostrar dos projetos de arte? Esta é uma questão que, nos últimos tempos, tem nos instigado bastante. As exposições de arte mostram, na maioria das vezes, um trabalho de cada estudante, como resultado de um trimestre intenso de descobertas e realizações nas oficinas de arte. Aos poucos nos demos conta de que queremos também mostrar e comunicar as experiências que acontecem no tempo e no espaço das oficinas.

A ideia de fazer exposições virtuais é uma alternativa para tornar visível e mais evidente aquilo que nos é tão valioso, como as primeiras descobertas, os registros em desenho e fotografia, os escritos e os esboços nos cadernos, as diferentes soluções a partir de uma mesma proposta, as tentativas, os erros e os caminhos encontrados, a busca individual e as invenções coletivas, a efemeridade de algumas pesquisas que se desmancham no ar…

As investigações em equipe sobre construção de conhecimento em arte passaram a dar mais sentido aos registros em fotografia e vídeo acerca do movimento dinâmico presente no cotidiano das aulas de arte, e pudemos reunir um rico material de documentação que pode dar visibilidade ao que nos parece ser a faceta mais significativa do trabalho de arte na Escola da Vila: o processo de criação.

A exposição virtual é encarada por nós como complementar ao que podemos chamar exposições presenciais, que vamos continuar montando ao longo do ano, uma vez que as duas modalidades de exposição procuram dar uma visão de um projeto da série.

Observamos que o conjunto de exposições virtuais (links a seguir), pelo fato de acontecerem simultaneamente, revelam um panorama das aprendizagens nas diferentes séries. Assim, é possível explorar as potencialidades de seu caráter documental, como, por exemplo, poder voltar quantas vezes precisar, recuperar junto com os familiares o calor dos processos, retomar o que já aprenderam e o que mais vem pela frente.

Os flip books e os sites apresentados aqui procuram guardar, através das imagens e dos pequenos textos, o clima das oficinas, a dinâmica do espaço, as trocas e as parcerias entre os estudantes, e alguns trabalhos realizados ao longo do processo. É claro que não abrimos mão de ver os resultados dos trabalhos, mas, em alguns projetos, é interessante perceber que a documentação pode ser tão ou mais importante que os produtos finais.

Mostrar o trabalho é como fazer com que ele comece outra etapa. O que aconteceu durante o processo entre alunos e professor ganha uma nova dimensão na medida em que, agora, ele parte para provocar inúmeras associações, sensações e relações.

Em uma entrevista, Jorge Larrosa, pesquisador e professor de Filosofia da Educação na Universidade de Barcelona, afirma que a arte está na experiência, no que acontece “entre” a obra e o espectador ou “entre” o espectador e a obra. É um acontecer da obra, quando ela se torna pública e provoca esse “entre”. Assim, convidamos vocês a fazer parte dessa experiência, a participar desse momento e fazer com que ele continue a acontecer.

Em cada uma das séries, diferentes linguagens da arte são aprofundadas. Elaboramos um pequeno guia de visita, para instigar a curiosidade e convidar a entrar.

Retrato e autorretrato
1º ano - Professora Larissa Glebova

Como um rosto pode expressar diferentes emoções e sensações? Experimentar e observar como o próprio rosto e o rosto dos amigos se transforma faz parte da investigação dos alunos nesse projeto. As imagens mostram as diferentes estratégias que as crianças utilizaram para essa pesquisa, e a pintura final foi realizada sobre um suporte escolhido por cada aluno e aluna.

Arte efêmera
2º ano - Professores Larissa Glebova e Tiago Judas

Muitas das questões da escultura contemporânea estão presentes nesse projeto que provoca os alunos a lidar com elas, como, por exemplo, considerar o próprio corpo como elemento escultórico. Além desse aspecto, os alunos dialogam diretamente com conceitos importantes da arte, como a efemeridade. Pode um trabalho não ser fisicamente para sempre?

Instalação: projeto corredor
3º ano - Professores Andrea Aly e Tiago Judas

Como transformar um espaço do nosso cotidiano criando e estabelecendo novas relações? Como lidar com essa nova escala - a dimensão real do espaço? Pensar no espaço da escola como parte de um trabalho de arte foi o desafio proposto nesse projeto. Desde a escolha do local até a montagem final, todo o processo foi discutido e realizado em pequenos grupos.

Sombras
4º ano - Professoras Andrea Aly e Karen Amar

O encantamento com as sombras sempre esteve presente no imaginário humano. Investigar como elas acontecem, de que maneira as sombras ganham formas diferentes, crescem e se transformam fez parte da pesquisa realizada pelos alunos. O teatro de sombras como finalização do estudo apresenta a diversidade de possibilidades exploradas além do papel, desde os mais diversos materiais encontrados na oficina de arte até o próprio corpo como elemento de trabalho.

Seres imaginários
5º ano - Professoras Karen Amar e Larissa Glebova

Pensar em um ser imaginário dispara uma série de investigações que se desdobram ao longo do projeto nas mais diversas possibilidades plásticas e corporais. Um ser imaginário surge a partir de referências do universo pessoal do aluno, e se configura como tal desde que possua algo diferenciado dos seres que conhecemos na vida real, A riqueza de soluções encontradas após toda a pesquisa revela detalhes sutis ou transformações inusitadas a partir do seu próprio corpo.

Retrato multimídia
6º ano - Professoras Jerusa Messina e Luisa Furman

Fazer um autorretrato implica em uma parada para pensar em si. Quem sou eu? Será que nos dias de hoje há tempo para pensar sobre isso? O autorretrato é um espelho que pode refletir mais do que um rosto.

Quais mídias cada estudante escolheu para representar a si? Se cada trabalho é um espelho, o que reflete?

Pintura Pop
7º ano - Professoras Jerusa Messina e Luisa Furman

Para além das cores vibrantes, repetição de imagens, ícones da cultura, a Pop Art, movimento que tem início na Inglaterra (anos 1950) e ganha força nos Estados Unidos (anos 1960), coloca em debate valores da sociedade. Presentificar a Pop pode ser possível quando atualizamos os temas de discussão: o valor da imagem na contemporaneidade, os objetos de desejo e consumo, o que nós transformamos em ícones de nossa cultura.

Dentre as inúmeras imagens presentes no cotidiano, de quais os estudantes se apropriaram para criar suas pinturas? Será que essas imagens nos representam?

Paraty - Pintura em tela
8º ano - Professores Bartolomeu Gelpi e Marisa Szpigel (Zá)

Quais as possíveis relações entre a pintura e a fotografia? Será legítimo o procedimento de pintar a partir de uma imagem fotográfica?

Estas e outras questões orientaram os estudos em que os estudantes do oitavo ano estavam envolvidos durante um trimestre inteiro. Os registros fotográficos realizados no trabalho de campo em Paraty foram ponto de partida para a pintura. O que pode ser explorado em cada uma das linguagens? O interessante, neste processo, é observar o que se mantém da fotografia e o que se transforma.

Intervenções no espaço da escola
9º ano - Professores Bartolomeu Gelpi e Marisa Szpigel (Zá)

No último trimestre do ano e do segmento, os estudantes do 9º ano mergulham em um complexo processo de criação, que tem início na pesquisa de artistas que realizam trabalhos em grandes dimensões, com a intenção de fazer intervenções no espaço público. A partir das pesquisas iniciais e das informações obtidas, em grupos os estudantes partem para uma investigação do espaço e da criação de ideias para transformá-lo. A proposta exige dos alunos antecipar os modos como as pessoas vão estabelecer novas relações com os lugares por onde circulam cotidianamente.

Os trabalhos realizados no espaço são de caráter efêmero. Qual o papel da documentação nesse processo? É importante notar que, para conhecer os trabalhos dos artistas, os alunos pesquisaram a documentação dos mesmos. Qual o lugar da documentação no campo da arte?