A importância de brincar com o próprio corpo e o movimento

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Por Marcos Mourão (Marcola)

O estado de inatividade física prolongada na infância, conhecido como sedentarismo infantil, vem ocupando cada vez mais espaço nas discussões de educadores, especialistas e pais. É crescente o número de crianças que, além de passarem horas do dia pouco envolvidas em atividades motoras, quando as realizam, demonstram pequeno interesse por elas. Algumas até se sentem mais realizadas quando estão usando seus tablets, assistindo seus DVD’s, do que quando estão correndo e pulando!

Nós, adultos, sabemos que qualquer atividade física envolve dedicação e esforço, até que se torne prazerosa (lembre quantas vezes iniciou e depois abandonou um programa de ginástica, dança, luta...). As crianças, para gostarem do movimento, precisam, desde cedo, ter um contato intenso com o próprio corpo. Precisam de espaço para se moverem, de materiais para estimularem, de interação, olhar e toque.

Atuando no Espaço da Vila com as turmas de 1 a 3 anos e na Escola da Vila, na formação das professoras de Educação Infantil, venho desenvolvendo propostas de atividades corporais que estimulam as crianças a explorar e descobrir possibilidades lúdicas com o próprio corpo e movimento. O objetivo deste trabalho é, sobretudo, possibilitar o reconhecimento do corpo em ação, utilizando-o como instrumento de expressão e comunicação, num ambiente interativo, prazeroso, desafiador, imaginativo, no qual a criança se sinta mais espontânea, mais livre, mais feliz com os efeitos do gesto, do toque, do olhar.

O primeiro momento desta aula é dedicado ao alongamento e aquecimento corporal. Neste momento, convidamos as crianças a experimentar diversas posturas que exploram diferentes partes do corpo. Abaixo, alguns exemplos.

“Dar corda no pé” - Sentadas, as crianças seguram o pé com a mão e rodam o tornozelo, como se estivessem dando corda em um brinquedo. Assim que tiver dado bastante corda, soltam e giram o pé, sem a ajuda das mãos!

“Balançar o galho” - Sentadas, as crianças seguram o pé e o deixam “solto” para balançar!

“Palma pezinho” - Sentadas, as crianças seguram o pé com as duas mãos e batem palma, deixando-o entre as palmas da mão.

“Acorda, perninha” - Sentadas, as crianças seguram uma das pernas e a trazem flexionada de encontro ao corpo, fazendo movimentos parecidos com o embalar de um neném.

Este momento, além de estabelecer um importante ritual de início da aula, cria uma íntima relação de sensibilização destas partes do corpo tão necessárias para a realização prazerosa dos movimentos.

Em seguida, iniciamos as propostas de deslocamentos, com várias brincadeiras que convidam as crianças a engatinhar, galopar, se arrastar, andar e correr. Abaixo, alguns exemplos.

“Trem” - De pé, as crianças arrastam os pés no chão, imitando o barulho do trem.

“Túnel” - Engatinhando, as crianças passam por baixo das pernas dos colegas e da professora.

“Cavalinho” - De pé ou agachada, cada criança escolhe a forma de brincar de cavalo.

“Carro” - De pé, as crianças correm como se fossem carros de corrida, desviando uns dos outros.

Estas atividades, além de desenvolverem habilidades relacionadas à organização espacial, são importantíssimas para o aspecto físico, na medida em que retomam posturas que, por vezes, são pouco exploradas pelas crianças, como o engatinhar, que é essencial para o fortalecimento das costas e dos braços.

O próximo momento da aula é o que chamamos de brincadeira central, no qual escolhemos uma proposta de corpo e movimento que mobilizará as crianças por um período maior de tempo. Abaixo, alguns exemplos.

“Brincadeira da Pulguinha” - Deitadas, as crianças são “picadas” por pulguinhas (educadoras ou outras crianças), até se levantarem e começarem a pular.

“Brincadeira do Passarinho” - De pé, as crianças voam como passarinhos e se escondem com a chegada do caçador (educadora).

Todas as brincadeiras são acompanhadas com músicas e ritmos oferecidos pela educadora, ampliando significativamente o envolvimento das crianças.

 A última parte da aula é destinada às acrobacias. É um momento muito prazeroso, no qual cada criança, com apoio da educadora, realiza um gesto acrobático. Abaixo, alguns exemplos.

“Montanha” - As crianças “escalam” e saltam de cima da professora.

“Balão” - As crianças realizam uma cambalhota no corpo da professora.

“Salto do Bolão” - As crianças sobem numa bola de ginástica e saltam, com a ajuda da professora.

Ao realizarem estas atividades, observamos que todo o corpo da criança busca a organização, um ajuste no gesto necessário para participar de cada brincadeira. Quando vai imitar o peixinho, por exemplo, os movimentos se aprimoram, a criança busca sua base corporal, seu olhar se concentra em suas mãos, coordenando-se espontaneamente e, principalmente, estabelecendo uma relação de prazer com o próprio corpo e com o movimento que tende a se manter nos anos seguintes.